Que audácia a minha, escrever e disponibilizar algo que pode interessar só a mim, enfim...
domingo, 29 de abril de 2018
Vida breve
Uma vida é muito pouca pra nós, é tudo muito rápido para tudo que sinto, pro que há pra fazer. A eternidade talvez? Outra vida talvez?
sábado, 28 de abril de 2018
Acompanhantes na sala de espera do centro cirúrgico
O ambiente é limpo, asséptico, clean, poltronas confortáveis, TV ligada o tempo todo para distrair, uma confortável sala de estar, pessoas ali estão, alguns minutos mais observa-se que as máquinas de água e café são visitadas vez ou outra e seus líquidos absorvidos em goles compassados, mãos entrelaçadas, às vezes um abraço, um afago, silencio inicial, então aos poucos os olhos dão sinais de angústia, as mãos se massageiam, ficar sentado já não satisfaz, é necessário levantar, andar de um lado a outro, as respirações são mais profundas, onde está a janela? É preciso tomar um ar. A senhora com ar sofisticado, de maquiagem bem feita e roupa impecável puxa uma conversa inicial com outra enaltecendo os atributos da família bem sucedida profissionalmente, dos médicos e engenheiros formados, dos amigos com cargos importantes, do tempo que morou no exterior; balela quer mesmo é entabular uma conversa, minutos depois fala de sua solidão, do filho que está lá dentro há horas, extraindo pedras dos rins, queixa-se que ela fala, fala mas que não adianta, que Ele não houve os conselhos, que se alimenta de forma e em horário errado, que deveria prestar atenção pois tem histórico familiar, que deveria se cuidar porque a avó morreu fazendo diálise, e Ela teme pois está vendo que do jeito que vai, Ele terá o mesmo destino, a outra por sua vez confidencia que o marido está há horas também sendo operado, que graças a Deus descobriu precocemente um câncer de próstata e que Ele procurou aquele hospital porque tem equipamento de robótica cujo cirurgião que o opera tentará extrair somente a próstata e assim não comprometerá sua capacidade de ereção, sua maior preocupação, mas que isso para Ela não importa, o que importa é que ele vai ficar curado fazendo companhia a Ela e aos filhos; uma mãe chega sentada à maçã, abraçada a seu filho, uma criança de três anos, canta-lhe uma canção de ninar antes de entregá-lo às mãos dos enfermeiros, seu corpo magro parece que só tem olhos, olhos de angústia, as pessoas evitam até olhar, tomados pela emoção; outra mulher cuja irmã está na emergência entre a vida e a morte, com um sorriso sem graça inicia a conversa com outra falando da sandália em seus pés que é parecida com a sua e em seguida fala da situação da irmã, a angústia é aparente, fala que a mesma é gorda que só, que vive avisando-a para se cuidar e nada e pronto ó, como Ela vai ficar se Ela se for? A pessoa que ouve aproveita a deixa e também fala da angústia de ter sua filha sendo operada no centro cirúrgico, uma jovem, para um problema precoce, mas que também já teve esse problema, assim como suas tias, que pelo jeito é uma tendência familiar. Os homens que ali estão, no seu silêncio parecem mais sensatos, frios, centrados, um não aguenta vai dar uma volta e na volta vez em quando pergunta: nada ainda? E o olhar em negativa informa, ah o olhar esse diz tudo, toda a fragilidade exposta, todo o medo da perda, todos iguais. Aos poucos um e outro médico/médica aparece para conversar, os ouvidos atentos, os pacientes, pacientemente vão saindo, no presenciado, todos vivos, alívio nos olhos antes aflitos, para seu alento e convívio, isso é o que importa, os detalhes resolve-se depois. Dia seguinte lá estão as acompanhantes tomando café juntas, se abraçando, se agradecendo pelas palavras de conforto, o desconforto passou.
Vida
Cada vez mais tenho certeza que essa nossa passagem por aqui é para nos aprimorar enquanto seres humanos, doce mistério esse que nos trouxe a esse mundo, como seres fantásticos que somos e nos pôs a sonhar; desde que respiramos nessa dimensão pela primeira vez, vivemos um mundo de fantasia, ilusão, aqui experenciamos sensações, emoções várias que vão de extrema dor, perplexidade, raiva, solidão, medo, angústia e paradoxalmente à extrema alegria, amor, amizade, compaixão. Tudo em uma mesma criatura, um mesmo ser e em todas ao mesmo tempo, tudo feito de uma forma tal para que em situações extremas invoquemos a nossa essência, nosso verdadeiro Eu, despido de toda vaidade, orgulho, egoísmo, de todas as máscaras, ao esvaziamento do corpo e que sejamos somente espírito, que nos leve a reconhecer o que realmente importa, o essencial que é invisível aos olhos, o seu desejo de fato, que é manter a essência do que conhecemos como vida.
Sr. Otávio
Seu Otávio partiu, cruzou o rio, voltou de/para onde veio, um caminho de águas serenas, se preparou, se despediu, partiu. Aqui ficaram filhos, filhos dos filhos, amigos, saudade. Aqui ficaram também as memórias, a boa fôrma como sua filha bem disse, de como as coisas devem ser, o sonho dos justos, do labor, das virtudes. Sr. Otávio recordou-me meu pai, meu avô e tantos outros que na ordem natural da vida, me antecederam, e demonstraram com sua vida como devo levar a minha, pessoas que não temiam a morte, pois sabiam-na companhia, e por isso zelou por sua vida o quanto pôde, não desperdiçou nenhum momento que não fosse para o serviço aos demais, à fé praticada, à alegria compartilhada e por isso viverão um bom tempo nas pessoas que aqui ficaram. Doce consolo.
segunda-feira, 9 de abril de 2018
Homenagem à Antonio, seu Pai.
Meu pai era um homem humilde, de hábitos simples e como muitos de sua origem pobre, não conheceu os livros e a ele coube os trabalhos de gente da sua origem por exemplo, o Trabalho duro da roça; atividades que muitos da cidade não conhecem, como o corte de cana, a colheita de milho, café, algodão. Mãos grossas calejadas. Não me desgrudava dele. Jovem durante um feriado desses, queria estar junto e como tinha curiosidade em conhecer sua rotina resolvi ir com ele trabalhar na colheita de café, mamãe me preparou para a empreitada com roupas grossas e uma touca de pano que ela fazia com abas compridas para proteger a cabeça e as laterais do rosto. Lembro dos rostos castigados e a dificuldade em subir no caminhão dos paus de arara como eram chamados e a marmita fria. Dos quatro dias que havia me disposto a ir, só aguentei dois, as mãos estouraram em feridas e calos. Várias vezes o vi beirando a exaustão devido aos trabalhos duros, pesados; por essas e outras morreu cedo. Emociono ao lembrar dele, a falta que me faz, de seu orgulho e esforço sobrehumano em conjunto com mamãe Maria em alimentar seus seis filhos e mantê-los na escola, das mãos grossas que gostava de pegar e que ele evitava com ela nos acarinhar por medo de nos machucar; de tentar ensiná-lo a ler e escrever, da dificuldade e orgulho dele em assinar seu nome, Antônio. Nome forte de uma pessoa íntegra, amiga, trabalhadora, gentil, delicada, generosa. Adiante de seu tempo, à época a meninas não cabiam bem certas coisas, mas ele não só acompanhava meus gostos como apoiava, incentivava, em atividades como futebol feminino, handebol. Cuidou de muitos esfolados e contusões em mim, passou muito gelol, rsrsrs. Me levou a pescarias e em partidas de futebol para apoiar e auxiliar nas atividades de seu time. Papai preocupado com seus filhos criou na cidade um time por três gerações, Dente de leite, Mirim e Junior, com isso ajudou a incutir valores nos filhos e de muitas crianças, recuperou delinquentes, foi um grande homem. Herdei dele, as virtudes, o gosto pela natureza, a resiliência, a covinha no rosto e o sorriso. Privilegiada eu fui, eu sou.
domingo, 8 de abril de 2018
Uma experiência sugestiva
Vez ou outra é preciso sair de casa, ir ao encontro de pessoas para rir, jogar conversa fora, desopilar a mente; se tiver uma música de fundo, um bom grupo de samba por exemplo, melhor ainda; com uma cerveja gelada para acompanhar, o papo flui descontraído; estabelece-se laços, projetos são planejados como por exemplo uma viagem partilhada com amigos pela Bielorússia; por alguns momentos o mundo gira só em torno de coisas que dão prazer, o interessante é que a sensação perdura ainda por alguma horas e ainda que se esteja um pouco altinha atividades corriqueiras como cozinhar por exemplo, tornam-se interessantes pela necessidade de mais que nunca se manter concentrada, coloca-se o óleo com alho na panela e de repente corre atabalhoadamente a colocar o arroz e permanece atenta para não queimar, lembra inesperadamente que apesar do adiantado da hora, quer levar um bolo para o trabalho no dia seguinte, para agradar a uma amiga que faz aniversário. Recita para si própria, bater no liquidicador o óleo, o açúcar, as bananas d'água, e os ovos, um não, três; mistura à parte com a farinha, o fermento, o leite e uma pitada de canela, coloca em forma untada para assar, por aproximadamente 40 minutos. O corpo malemolente resiste em entregar-se ao doce desejo de dormir pois afinal tem que vigiar o forno para o bolo não queimar, ao longe desejos da ordem dos afetos surge, espera ter disposição para usufruir de todas as boas sensações; dar conta de tudo antes de entregar-se nos doces braços de Morfeu.
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