Que audácia a minha, escrever e disponibilizar algo que pode interessar só a mim, enfim...
sábado, 28 de abril de 2018
Acompanhantes na sala de espera do centro cirúrgico
O ambiente é limpo, asséptico, clean, poltronas confortáveis, TV ligada o tempo todo para distrair, uma confortável sala de estar, pessoas ali estão, alguns minutos mais observa-se que as máquinas de água e café são visitadas vez ou outra e seus líquidos absorvidos em goles compassados, mãos entrelaçadas, às vezes um abraço, um afago, silencio inicial, então aos poucos os olhos dão sinais de angústia, as mãos se massageiam, ficar sentado já não satisfaz, é necessário levantar, andar de um lado a outro, as respirações são mais profundas, onde está a janela? É preciso tomar um ar. A senhora com ar sofisticado, de maquiagem bem feita e roupa impecável puxa uma conversa inicial com outra enaltecendo os atributos da família bem sucedida profissionalmente, dos médicos e engenheiros formados, dos amigos com cargos importantes, do tempo que morou no exterior; balela quer mesmo é entabular uma conversa, minutos depois fala de sua solidão, do filho que está lá dentro há horas, extraindo pedras dos rins, queixa-se que ela fala, fala mas que não adianta, que Ele não houve os conselhos, que se alimenta de forma e em horário errado, que deveria prestar atenção pois tem histórico familiar, que deveria se cuidar porque a avó morreu fazendo diálise, e Ela teme pois está vendo que do jeito que vai, Ele terá o mesmo destino, a outra por sua vez confidencia que o marido está há horas também sendo operado, que graças a Deus descobriu precocemente um câncer de próstata e que Ele procurou aquele hospital porque tem equipamento de robótica cujo cirurgião que o opera tentará extrair somente a próstata e assim não comprometerá sua capacidade de ereção, sua maior preocupação, mas que isso para Ela não importa, o que importa é que ele vai ficar curado fazendo companhia a Ela e aos filhos; uma mãe chega sentada à maçã, abraçada a seu filho, uma criança de três anos, canta-lhe uma canção de ninar antes de entregá-lo às mãos dos enfermeiros, seu corpo magro parece que só tem olhos, olhos de angústia, as pessoas evitam até olhar, tomados pela emoção; outra mulher cuja irmã está na emergência entre a vida e a morte, com um sorriso sem graça inicia a conversa com outra falando da sandália em seus pés que é parecida com a sua e em seguida fala da situação da irmã, a angústia é aparente, fala que a mesma é gorda que só, que vive avisando-a para se cuidar e nada e pronto ó, como Ela vai ficar se Ela se for? A pessoa que ouve aproveita a deixa e também fala da angústia de ter sua filha sendo operada no centro cirúrgico, uma jovem, para um problema precoce, mas que também já teve esse problema, assim como suas tias, que pelo jeito é uma tendência familiar. Os homens que ali estão, no seu silêncio parecem mais sensatos, frios, centrados, um não aguenta vai dar uma volta e na volta vez em quando pergunta: nada ainda? E o olhar em negativa informa, ah o olhar esse diz tudo, toda a fragilidade exposta, todo o medo da perda, todos iguais. Aos poucos um e outro médico/médica aparece para conversar, os ouvidos atentos, os pacientes, pacientemente vão saindo, no presenciado, todos vivos, alívio nos olhos antes aflitos, para seu alento e convívio, isso é o que importa, os detalhes resolve-se depois. Dia seguinte lá estão as acompanhantes tomando café juntas, se abraçando, se agradecendo pelas palavras de conforto, o desconforto passou.
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