Uma história real, triste. Em um dia de março de 1999, (me benzendo agora para que não se repita), na Rua das Laranjeiras, Flamengo-Rio, fui vítima da famosa "saidinha de banco". Em plena luz do dia me vi cercada por três assaltantes que discretamente me mostraram as armas, instantaneamente me senti acuada como um animalzinho cativo, em choque abri minha bolsa onde suas garras ávidas, pegaram o dinheiro, lembro de suas caras drogadas, do riso sem dentes ou quebrados. Isso feito, sumiram imediatamente. Poucas vezes chorei da forma como chorei, me senti absolutamente só, vulnerável, uma ninguém, pois apesar de várias pessoas assistirem a cena (porteiros dos edifícios, técnicos da Cia de energia que estavam praticamente ao lado e transeuntes vários), frustrada pensava porque ninguém faz nada, um grito sequer? (Hoje entendo, o que fazer ante a ameaça de uma arma?) Completamente desconsolada, apareceu um policial que fazia ronda no bairro e solícito falou-me: "Foi agora Senhora? Vou pegar Eles, a Senhora reconhece?" Descrevi, e com a arma na mão começou a abordar todos os jovens negros que passavam, lembro de suas caras assustadas, do medo estampado, as mãos trêmulas procurando a Identidade, da adrenalina que exalava do policial, da tensão e cansaço em seus olhos, do desejo de cumprir seu papel, me proteger, prender os assaltantes. E recuei, pensei e falei: "Seu policial agradeço sua atenção, mas deixa pra lá, estou muito nervosa posso me confundir e cometer uma injustiça ou colocar a vida de alguém em risco." Ele falou: "Tem certeza?" Sim. "Ok, mas qualquer dia menos dia, Eles dão um vacilo e pegamos Eles, porque essa gente não vive muito tempo não. Vou acompanhá-la até sua condução". Durante o percurso conversamos entre outras coisas e ainda chorosa, falei: "Sendo policial esse tipo de coisa não acontece com você não é mesmo?" Ele: "A Senhora que pensa, dia desses, em meu carro, com minha família, o bandido colocou a arma na minha cabeça e anunciou o assalto no sinal de trânsito, gelei, todos apavorados, e torci para que Ele não visse minha identificação de policial, e no menor vacilo, matei-o ali mesmo." Impressionada com o relato, com a naturalidade, falei: "mas e aí? Como é conviver com isso?" Ele falou: "Por Ele não senti nada pois um minuto antes, poderia ter sido Eu, pela mãe dele sim, naquela noite eu não dormi, fiquei pensando nela, sim, porque uma mãe chora por qualquer filho."
Esse fato me marcou, vez ou outra penso nesse policial, se Ele está vivo, quantos matou, quantas noites insones, penso também nos jovens bandidos, em sua maioria negros, favelados, marcados para uma vida curta, na desestruturação das famílias, na falta de orientação, oportunidades, na ausência do Estado, na tragédia social que se encontra nossa sociedade, nesse período arcaico de-se tentar fazer justiça pelas próprias mãos, no salve-se quem puder, ou se não encontrar uma bala perdida, nas mães que choram pela perda de um filho(a) em qualquer situação (e os pais também). Assim como o policial, todos somos vítimas desse contexto, do Estado falido. Rogai por Nós, óh Pai!
Que audácia a minha, escrever e disponibilizar algo que pode interessar só a mim, enfim...
sexta-feira, 31 de março de 2017
quarta-feira, 29 de março de 2017
Conversa com Taxista -2
Sobre taxistas - parte 2. Agora voltando pra casa em São Gonçalo após a reunião que participei no Rio, vejam que coincidência, o motorista que me leva é o mesmo que me transportou a cerca de dois anos atrás, e lembramos um do outro, recordei e agradeci a Ele novamente pela atitude dele à época ao devolver meu aparelho celular que havia esquecido em seu carro, do trabalho que teve em tentar me encontrar para devolvê-lo e que sua atitude ficou marcada em mim. A resposta: "Senhora, não fiz nada de extraordinário, o que fiz deveria ser o normal, a gente é que houve tanta notícia de falcatruas, que acha que ser honesto é algo anormal, raro e por isso tem que ser valorizado, sendo que isso é errado, ser honesto deveria ser uma condição/característica do Ser Humano; falamos sobre o momento difícil que Ele tá passando, da situação do País, das alternativas e sobre outras coisas que só engrandecem a sua pessoa. Cheguei em casa mais esperançosa, após conversar com pessoas, com esses valores. Hoje foi só reforço de minha aprendizagem com os taxistas. Dia muito produtivo, rico, cada vez mais preciso jogar conversa "fiada" fora, como assim falou o Sr. Antônio pela manhã. Ah, antes de fazer essa postagem li para o Sr. Pedro que com os olhos brilhando disse, "pôxa Dna. Raimunda, a Sra. tá fazendo um machista chorar", rsrsrsrs.
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Conversa com Taxista
Uma das coisas que aprecio é conversar com taxista, como nesse momento, conversando "fiado" com diz o Sr. Antônio, em meio a um engarrafamento costumeiro

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Memória de criança
Saudade da minha infância agora, lá no interior de Minas Gerais, uma vida rica, agora sei. Cozinhava-se no fogão a lenha, mamãe Maria até mesmo numa trempe de serragem; a meninada em volta, ajudando, aprendendo. A galinha caipira criada à vontade no quintal, o porquinho era cevado com cuidado pelo meu querido pai, me contaram que quando bebê havia até uma cabra para me dar leite, pois Eu era alérgica ao leite de vaca, um luxo. Aliás, a gente acompanhava o leite sendo retirado da vaca, puro, consistente, onde era transformado no requeijão, manteiga, queijo, em doce de leite, hummm.Mais tarde morando em um vilarejo, a quantidade de leite, eram entregues cedinho em vasilhames próprios; vez ou outro alguém matava uma vaca, na roça era uma festa a confecção das linguiças, do chouriço, o corte das carnes, do Toucinho. Ah o torresmo, delícia, sequinho e crocante. O milho, a mandioca, legumes, frutas e verduras colhidos para consumo a seu tempo; no meio de muito trabalho, fazia-se muita coisa gostosa manualmente, desenvolvia-se habilidades, em meio a muitas risadas, conversas e aprendizagem. Ah saudade, da minha avozinha querida, em sua casa sempre havia potes com quitandas, que Ela guardava como uma caixa de tesouro para a alegria dos netos, o sabor do biscoito de polvilho, das broas, dos bolos, aindha me dão água na boca. E havia ainda os pastéis, o macarrão, todos feitos em casa, com massa caseira. A carne secando ao sol, defumando sobre o fogão, armazenadas na própria gordura. Ah sinto o cheiro do café, moído na hora, filtrado no pano, o sanbor do pão de queijo quentinho. Gente, muitos não sabem do que falo, mas os de minha geração, de minha origem, se recordarão, sabem de como era bom. Do quão ricos éramos e somos por carregar essas recordações conosco, e daí essa procura, busca, empenho em levar um pouco disso ainda nos dias de hoje.
domingo, 12 de março de 2017
Sobre sorrir e chorar
Trabalhando para uma pessoa com temperamento explosivo muito difícil, um dia em uma reunião, Ele no auge da explosão, olhou para mim e disse "E Você? Sempre com essa calma, esse sorrisinho no rosto?! Respondi: "Você queria que Eu me derramasse em lágrimas né? Nunca lhe dei esse prazer. Embora escondida às vezes. Aliás como é bom chorar, lavar a alma como se diz, choro por emoções que sinto: de raiva, de alegria extrema, por prazer, por tristeza, por perdas (Essa é impossível não chorar), as vezes a saudade é tanta que choro; por sensações, como a dor física, quem ainda que disfarçadamente não verte uma lágrima por um belo tropeção, uma martelada, um aperto inesperado num dedo?. Quem não chora, não ri, não sai da linha de vez em quando, não é humano. Pra você sempre o meu melhor sorriso, verdadeiro.
sábado, 4 de março de 2017
Um instante sozinha
Sozinha, no silêncio do meu quarto, sob a luz do abajur ouço o barulho do ambiente. Lá fora uma cigarra canta, nunca soube ao certo porque elas cantam; afinal é pedindo/prevendo sol ou chuva? agora um grilo faz parceria, um cão late ao longe e a água chora ao escorrer pelas pedras e reentrâncias de seu destino, que barulheira de repente. Isso! Ofusca meus pensamentos, tira de mim esse sentimento de solidão, esse vazio de algo que nunca foi meu que como dizem me foi dado como empréstimo e agora tenho dificuldade em devolver. Que angústia óh Pai, para onde segue o meu destino? Um turbilhão de emoções invade minha alma, a outra ao invés de me acolher foi logo apontando o dedo na ferida, ué tá reclamando de quê? Você foi dar liberdade ó, deu no que deu, agora aguente. Mas como assim? Deveria ter sido diferente? Eu só preciso saber a técnica de como fazer com quê meus pássaros venham beber a água da fonte sempre que quiserem.
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