domingo, 23 de julho de 2017

Cidades pequenas

Coisa boa são cidades onde as pessoas, segundo uma amiga disse, não vivem emboladas, não há lixo espalhado, há sinais de um certo zelo das pessoas com suas coisas, há menos coisas descartáveis, há mais flores,  os terrenos não tem muros, as casas não tem grades nas portas e janelas e tampouco nas praças, nelas os  gramados e bancos são um convite pra sentar, bem como os armazéns, as biroscas. Até mesmo na periferia percebe-se nos mais humildes um quê  de dignidade. A vida parece correr devagar, com menos gastos com futilidades e poucos  aborrecimentos. Os sonhos das pessoas se resumem a ter uma boa comida, bebida, um estudo suficiente, algum dinheiro e uma festa de vez em quando pra se enfeitar,  e qualquer motivo é um espaço pra prosear. Em lugares assim parece que o céu é mais azul, os pássaros são vistos e se escuta seu canto; com certeza a respiração é mais leve e as pessoas se olham nos olhos, prestando atenção umas nas outras,  o bom dia é espontâneo e o sorriso também. Coisas como aparelho celular, notebook, etc. ainda são novidades e parecem não fazer falta; aliás ainda é visto como falta de educação quem tem, usá-los quando estão com outras pessoas. Lugares assim fazem a gente ponderar sobre estilo de vida, sobre valores, sobre limites, que a busca desenfreada pelo ter sempre mais, faz o ser ficar esquecido e isso traz infelicidade.  Reflete-se que para viver basta ter o necessário  e como já dizia uma musiquinha de um desenho infantil, o extraordinário é demais.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Zagaia



Dos causos mineiro, que ouvi por aí-A estória do Zagaia: Reza a lenda que há muito tempo, no tempo da escravidão, dos tropeiros que andavam armados e levavam a boiada  pelas montanhas e sertões, no tempo das lamparinas e colchões de palha, havia um fazendeiro cujas terras ficavam em uma das encostas da Serra da Canastra, no caminho que os tropeiros faziam  para  vender o gado. Sabendo disto, ao retornarem, o fazendeiro lhes oferecia pouso e comida.  Vez ou outra aparecia por lá parentes ou até mesmo empregados preocupados, procurando por pessoas que vieram por aquelas paragens e  misteriosamente haviam desaparecido. O acaso quis que o mistério fosse descoberto  e soube-se assim,  que o fazendeiro construiu uma Zagaia, um pesado tronco de madeira, cheio de pontas, que colocava de forma disfarçada sobre a cama do hóspede. Quando o hóspede se preparava para dormir,  ele ficava atento aos seus movimentos  e enquanto a pessoa dormia, do seu quarto, puxava uma corda e a Zagaia descia e o matava; isso feito,  roubava lhe o dinheiro  e enterrava o corpo atrás da casa. Certo dia, um tropeiro hospedou-se na estalagem quando levava a boiada para vender; o fazendeiro encheu-o de atenção pois sabia que ele retornaria por ali. Enquanto o Tropeiro descansada e fumava um cigarro de palha, a escrava do lugar pediu-lhe o toco do cigarro e Ele generosamente deu-lhe um pedaço do rolo do fumo. A escrava ficou imensamente grata por tal  atitude, pois até então ninguém lhe havia dado tal atenção. Quando o tropeiro retornou da viagem com o dinheiro da venda do gado, o fazendeiro o cobiçara e novamente lhe ofereceu hospedagem, desta feita para roubar-lhe. A escrava lembrou-se do seu gesto e em agradecimento,  alertou-o do risco que corria  e da armadilha do fazendeiro para roubar os viajantes. Assustado e precavido, à noite ele preparou a cena para dormir: acendeu a lamparina, dirigiu-se ao quarto e pressionou  o colchão de palha para fazer barulho como se deitasse, esperou em silêncio e viu a Zagaia caindo sobre a cama tal qual a escrava havia lhe contado e logo após, na penumbra do quarto à luz de lamparina o fazendeiro apareceu e quando se abaixou para conferir que estivesse morto, Ele instintivamente o matou com um tiro no peito. Pela manhã, a polícia após o relato dele e o testemunho da escrava, descobriram trinta e duas ossadas enterradas no terreno da propriedade, das pessoas que haviam passado por lá. Estória sinistra essa, dizem ser verdadeira. A lição dessa história é que devemos tratar todas as pessoas bem, de onde menos se espera pode vir a ajuda que pode salvar sua vida.




sexta-feira, 14 de julho de 2017

Instante

Porque o instante existe, e é preciso o riso, o canto, o encontro;  para que a vida se manifeste e o calor minimize  a  agonia, a dor que insiste.

Por que me importo?

Por que  me importo? Por que me incomodo? Porque nunca vou desistir de Você e espero que não desista, não se abandone, a um ponto que seja difícil ou impossível voltar.

Ramos é seu nome

Ramos é seu nome, um jovem empreendedor de 42 anos, jovem? Se duvidam é porque não o viram e ouviram falando. Há cerca de cinco anos Eu o reencontrei estabelecido em uma cidadezinha no interior de Pernambuco, dormindo em local improvisado em meio a diversos materiais de construção, em local alugado para um pequeno comércio. Já o conhecia mas ainda não havia tido a oportunidade de lhe dar a devida atenção. Durante nossa conversa disse-lhe que era detentor de um grande talento e inteligência e que devia dar vazão à seu espírito empreendedor e de realização, pois pressentia um futuro brilhante para Ele. Ao retornar à Pernambuco, fez questão de nos receber, nos apresentar sua esposa, uma parceira/companheira para todas as horas como Ele Mesmo disse  e mostrou-nos seu progresso, um empresário em franca ascensão; a lojinha se transformou numa loja própria, ampla e bem organizada. Mais uma vez pude rever o brilho de seu olhar e sentir a alegria e entusiasmo na sua voz e a pureza de seu coração, impressões raras de se ver e que se destacam quando alguém as possuem. Ramos vêm de uma família de nove irmãos, todos de uma dignidade e força ímpar, é o primogênito dos filhos homens, foram criados somente pela mãe (viúva e mais tarde abandonada pelo companheiro), mulher de fibra e coragem pois como Ele mesmo disse, naquela época era comum no Nordeste, mães na situação da sua, darem seus filhos para outros criarem, mas a Dele não, ficaram juntos, apesar da vida difícil tão comuns no Nordeste. Ainda criança foi para a lavoura, para o corte de cana, para o uso da enxada e diversos outros afazeres nos engenhos, lembrou das diversas vezes que tinha somente angu de fubá para comer, que raramente comia um pedaço de carne e o leite era doado por uma vizinha de bom coração, que tinha algumas cabras. Com meu marido, lembraram sorrindo algumas passagens comuns, das situações difíceis que viveram na infância e também dos alegres banhos de rio e dos namoros. O mais gratificante foi constatar que hoje, estando na situação de patrão, preocupa-se com o bem estar de seus empregados (pois já esteve do outro lado), orgulhoso disse-nos que todos são devidamente fichados, que têm seus direitos garantidos e que faz pesquisas frequentes para constatar que é o que melhor remunera seus empregados e que busca o tempo todo envolvê-los nas atividades como um bem comum, que se a empresa estiver bem, eles estarão também. Fiquei deveras emocionada quando Ele me disse que guardou  minhas palavras em seu coração, que alguém expressou que acreditava Nele e que via para Ele um futuro promissor. Ramos é seu nome e Ele só está começando. Sou grata pelo privilégio de conhecer uma pessoa tão inspiradora.