terça-feira, 30 de outubro de 2018

Conversa com o filho

Conversa aleatória com o filho de manhã e outras que gostaria de dizer: Ele tem 25 anos, está gripado, com uma tosse que preocupa. Vou fazer café, mas a água se transforma em chá contra gripe para ele. Rimos e digo, filho quando eu não estiver mais aqui você se lembrará de mim? Claro mãe. Vai se lembrar de botar camisa quando faz frio e tirar quando faz calor? Vou mãe. De não ficar com os pés no chão frio quando estiver gripado? Vou mãe. De comer com moderação e tomar cuidado com o que come? Por exemplo comer menos cachorro quente e refrigerante nas festas? Vou mãe, e quando comer algo bom vou lembrar que você gostaria de comer um pedaço comigo. Filho, você irá ficar atento a tudo que ronda seu coração, às mensagens ruins contrárias ao amor ao próximo? Ficará afastado de armas e todas as coisas que humilham e entristece o coração das pessoas?  Faço isso sempre mãe quando leio algo na internet, quando estou com meus amigos, na rua, no trabalho, em todo lugar. Eu confio em você, hein Filho? Eu também em você mãe, a sinto sempre comigo. Emocionada e feliz aqui.

A cor da resistência

Sempre fui essa branca, cor de burro quando foge, com esse cabelo sarará, crespo quase pichainho, e sempre  ouvi indiretas para alisar o cabelo, que cabelo liso é cabelo bom, etc. Houve um tempo em que induzida por tais preconceitos,  alisava, aloirava o cabelo, sem perceber disfarçava vestígios de minha origem, como eu era, algumas nem se dão conta que não se aceitam e por isso ainda se escondem;  mas nada se compara ao estigma, à dor  de quem tem a pele negra, os traços da negritude. Pois hoje, se houvesse mágica queria que Deus jogasse um balde de tinta em mim, me fizesse com a pele bem pretinha, bem retinta pra fazer conjunto com meu cabelo, me enfeitaria com as cores mais belas, passaria óleo e hidratante pra cuidar dela e ficaria bem reluzente, cuidaria mais do meu corpo, ressaltando todos os meus traços, me esforçaria ainda mais  para ficar bem pertinho dessa gente ruim que tudo faria para me diminuir, minha satisfação seria desfilar na cara dele/dela, da sociedade inteira, as faria vomitar toda a sua repulsa, até passarem mal. Gente ruim, mais ainda quando acham que é mimimi, mais ainda são aqueles que esqueceram de si, de seus ancestrais, de sua origem, de sua história e fazem papel do feitor, do capitão do mato, do dono do engenho, do dono de escravos. Esses que me fazem chorar hoje, haverão de queimar no quinto dos infernos. Ah se vão! Praga de mãe é bendita e forte.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Pegue suas armas

Meu coração sangra, quase ouço os gritos dos excluídos ao ler as notícias que me chegam pelas redes sociais, sim, no momento essas são como as vielas das favelas a escoar as dores, a opressão, o medo, o pranto. É possível ver o olhar frio, inerte, a arma, o dedo no gatilho e o tremor, o pavor nos becos. Todos somos vítimas, alguns mais que outros por certo. Triste destino. Destino? O que leva alguém a nascer pobre, favelado? Ou se tornar... a carregar as mazelas do mundo? É pertinente que continue assim, afinal em quem se irá pisar, lançar um olhar de desprezo se todos tiverem igualdade social? Sobre os ombros de quem se atribuirá a culpa que não é minha, mas que é sua? Afinal quem mandou nascer pobre? Pobre tem mais é que aguentar mesmo e calado sem reclamar. Vá meu filho, minha filha, continue sendo subserviente, você não tem direito a se divertir, no máximo trabalhar e olha lá! Vá, acorde cedo esqueça o que viu, cuidado para não perder o horário do ônibus, foque no trabalho, não olhe pra trás. Querendo ou não, o trabalho é a única coisa que te mantém vivo/viva. Vez ou outra, além da notícia que corre pelas redes, é possível ouvir os pipocos, fuzil? Nossa, muito tiro, que arma será? Não passe por lá, melhor não sair, quem tá dentro não sai, quem tá fora não entre, não passe perto, ignore, caramba! Um bando de garotos, com armas maiores que eles, foi o que ouvi dizer, como pode? Como essas armas chegam? Ué, não é proibido? Ah é o tráfico, eles conseguem qualquer coisa... eles quem? Os pobres, os favelados? Sim, quer dizer não, sei lá... forças poderosas  estão por trás, financiando, controlando, matando, ganhando com isso. Sim, muito dinheiro circula, que mal há que os pobres morram? Que essa rapaziada morra? Afinal qual perspectiva têm? Atrás de um, há um monte, vão chegando gente, escolham sua armas.