terça-feira, 30 de outubro de 2018

A cor da resistência

Sempre fui essa branca, cor de burro quando foge, com esse cabelo sarará, crespo quase pichainho, e sempre  ouvi indiretas para alisar o cabelo, que cabelo liso é cabelo bom, etc. Houve um tempo em que induzida por tais preconceitos,  alisava, aloirava o cabelo, sem perceber disfarçava vestígios de minha origem, como eu era, algumas nem se dão conta que não se aceitam e por isso ainda se escondem;  mas nada se compara ao estigma, à dor  de quem tem a pele negra, os traços da negritude. Pois hoje, se houvesse mágica queria que Deus jogasse um balde de tinta em mim, me fizesse com a pele bem pretinha, bem retinta pra fazer conjunto com meu cabelo, me enfeitaria com as cores mais belas, passaria óleo e hidratante pra cuidar dela e ficaria bem reluzente, cuidaria mais do meu corpo, ressaltando todos os meus traços, me esforçaria ainda mais  para ficar bem pertinho dessa gente ruim que tudo faria para me diminuir, minha satisfação seria desfilar na cara dele/dela, da sociedade inteira, as faria vomitar toda a sua repulsa, até passarem mal. Gente ruim, mais ainda quando acham que é mimimi, mais ainda são aqueles que esqueceram de si, de seus ancestrais, de sua origem, de sua história e fazem papel do feitor, do capitão do mato, do dono do engenho, do dono de escravos. Esses que me fazem chorar hoje, haverão de queimar no quinto dos infernos. Ah se vão! Praga de mãe é bendita e forte.

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