terça-feira, 15 de maio de 2018

Velhice chegando

Às vezes olha de soslaio no espelho, uma figura nova está aparecendo, uma senhora distinta, um tanto atrevida se impõe com a força de seus cabelos platinados, da pele com suas marcas curtidas pelo tempo, das muitas experiências que viveu. Olha com curiosidade e respeito, quem é esta que se apresenta sorrateira e decidida a ficar? Não tem jeito qualquer dia menos dia terá que encará-la, e saber para que veio. Tem medo pois o seu olhar é profundo, sabe que irá mergulhar num mar de lembranças e ilusões, do que já foi, e do que há de ser, como um sonho e haverá muitas indagações.  Bem verdade que desde que a viu pela primeira vez, houve uma identificação muito grande; assim como Ela, já não consegue andar muito depressa, tampouco fazer várias coisas ao mesmo tempo, as atividades começam a ser mais pausadas, demoradas, são executadas com mais atenção e cuidado. Não se aborrece por pouca coisa, procura ouvir primeiro, falar pouco, evita pré julgamentos e provocações alheias. Na dúvida fica na sua e sorri. Está dando certo essa estratégia, se a memória falha ou não entendeu ou ouviu direito, não vacila em dizer "repete o que disse por favor?, "onde Eu estava mesmo?" Vez ou outra diz pra si mesma no espelho, "calma..., relaxa..., respira..., não é nenhuma sangria desatada, pode esperar, ou vai...tenta fazer de novo..., você consegue..., não há nada demais em errar....". Olhando bem de pertinho o espelho repara e pensa: "humm...esses olhos, esse jeito..., tantas coisas em comum... Ihh será que somos a mesma pessoa? Que coisa!. Ela é tão insistente e decidida, que o jeito é deixá-la se aproximar. De forma prazenteira, num rompante diz:  - Ei! Senhora! Entre mas vai adentrando devagar, a casa é sua mas não se espalha muito rápido não, de mãos dadas leve-me a apreciar as coisas costumeiras, aos poucos, de forma cadenciada, ritmada, que nos permita saborear o que há de bom, prazeroso, devagar, afinal não queremos tropeçar no caminho, queremos descobrir, colher as coisas deixadas para nós e reespalhá-las, e isso toma muito tempo, temos que viver.

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