terça-feira, 2 de maio de 2017

Em algum lugar do passado

A memória visita algum lugar do passado; após já ter trabalhado de forma informal em troca de alguns trocados, a jovem sonha com seu primeiro emprego e impelida pela necessidade vislumbra uma possibilidade e se submete a testes em uma grande confecção de roupas masculinas e consegue admissão. A vontade de vencer e a força da juventude, faziam com que abraçasse todos os desafios e ignorasse o cansaço, a marmita fria que era cheirada antes de comer, a dor do dedo perfurado pela máquina de costura industrial, da humilhação quando não havia feito uma costura perfeita, cuja peça não era descartada mas era descontada do salário, da meta de produção que nunca era alcançada, da supervisora que não tinha chicote mas que sua presença circulante, seu olhar e fala sibilante, sempre procurando diminuir a auto estima das empregadas, eram intimidadoras para uma jovem de quinze anos, que segundo a ideia corrente precisava de disciplina, obediência cega para aprender como se trabalha e naturalmente se submetia porque​ o salário complementava a renda da família.
Mais tarde no segundo emprego do mesmo seguimento e cenário, a irmã​ se junta nessa experiência, eram (sempre foram) funcionárias exemplares, os corpos eram máquinas de vigor no movimento de máquinas, tesouras, linhas e peças de roupa; mas as tarefas nunca eram suficientes, as metas de produção inalcançáveis e ao final dos meses, a frustração ao conferirem​ os contracheques pois o adicional esperado não vinha.
Nos dias de hoje próximo a sua "aposentadoria" , a "surpresa" ao constatar que seu patrão do primeiro emprego não depositou o valor devido à previdência e terá que "correr atrás"; acostumada aliás.
A constatação dessa jovem ao final é que sobreviveu e venceu no mundo do trabalho, devido a proteção assegurada pela legislação trabalhista e daí a desconfiança, a preocupação em lutar para assegurar os direitos duramente conquistados com suor, lágrimas e sacrifícios dos trabalhadores e trabalhadoras que a antecederam. Se com proteção, essa não é nem de longe a pior história, haja vista os trabalhadores das fábricas em geral, dos empregados (as) domésticas, de carvoarias, mineradoras, os lavradores, dos "paus de arara" , a do meu Pai que de tanto trabalhar, seu corpo tremia de exaustão e por essas e outras veio a falecer aos 52 anos e outras; alguns(mas) não viveram nem pra contar sua história.
Finalizando, os trabalhadores(as) pobres, que "venceram" e ainda lutam com medo de perderem o pouco que conquistaram, trazem em si e família várias marcas de sacrifício e superação, e numa sociedade tão desigual, injusta e corrupta como a nossa, a vitória só acontece sobretudo além da proteção assegurada por legislação específica, por uma força interior muito grande, de se saber que não está só, que há um Deus que alimenta seu espírito. Por isso, agradeço.

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